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Textos de amigos e músicos do artista.

Chico Buarque e Edu Lobo em parceria

Lauro Lisboa Garcia

Uma das parcerias mais representativas da MPB, Edu Lobo e Chico Buarque, tem o melhor de sua autoria reunido no CD Álbum de Teatro (BMG-Ariola), que chega às lojas esta semana. São canções que ambos compuseram para as peças O Grande Circo Místico (1983), Dança da Meia-Lua (1988), do Balé do Teatro Guaíra (Curitiba), e O Corsário ao Rei (1985), a maioria extraída dos respectivos álbuns.
O CD, com direção musical do próprio Edu, abre com a faixa que encerrava o Circo – Na Carreira. uma bela exaltação da vida nos palcos, na voz dos autores – e encerra com a instrumental Oremus, a única não assinada por Chico.
Entre as 17 faixas da antologia há clássicos contemporâneos em gravações originais, como Beatriz, insuperável na voz de Milton Nascimento, Sobre Todas as Coisas, com Gilberto Gil acompanhando-se ao violão (ambas do Circo Místico), e Valsa Brasileira, com Chico, o ponto alto de Dança da Meia-Lua.
Regravada por Edu e por Zizi Possi, Valsa inclui-se entre as obras-primas da dupla. A letra é primorosa, um dos grandes poemas de Chico, à altura da canção de Edu. “Vivia a te buscar/ Porque pensando em ti/ Corria contra o tempo/ Eu descartava os dias em que não te vi/ Como de um filme a ação que não valeu/ Rodava as horas pra trás/ Roubava um pouquinho/ E ajeitava o meu caminho pra encostar no teu”, diz parte da letra.
Em outra de suas jóias, Choro Bandido (cantada por Edu), fica implícita até uma brincadeira com o fato de os autores não serem um primor em voz e afinação: “Mesmo que os cantores sejam falsos como eu/ Serão bonitas, não importa/ São bonitas as canções”. Isso explica o fato de até Ivan Lins soar agradável em Acalanto.
O Circo Místico, com Zizi Possi, também em gravação original, é a predileta de Edu para a peça do Guaíra. É outro grande momento do CD, com bela melodia e letra que joga com a fantasia, inspirada no poema delirante de Jorge de Lima.
Outros temas brilhantes do Circo ressurgem em regravações, que não chegam a comprometer as originais, mas também não as superam. Tratam-se do malicioso blues A História de Lily Braun (gravado na trilha original por Chico Buarque e Gal Costa), aqui com uma pasteurizada LeiIa Pinheiro, e A Bela e a Fera, com Ney Matogrosso substituindo Tim Maia, noutra das letras mais buriladas de Chico. O verso inicial de Meia-Noite, com Djavan, remete aos contrastes descritos em Bela: “Se a noite não tem fundo o mar perde o valor”.
Por tratar-se de coletânea, embora prevaleça a boa qualidade técnica das gravações, o CD não está livre de oscilações dos arranjos e da própria sonoridade. Isso sem falar na variação de estilo de certos intérpretes – Ed Motta (Bancarrota Blues), Zé Renato e Cláudio Nucci (Salmo), Danilo Caymmi (Tororó).
Faixas como A Mulher de Cada Porto (com Chico e Gal Costa), Meia-Noite e A Bela e a Fera são francamente prejudicadas pelos arranjos. Detalhes de resultados como esses não chegam, no entanto, a afetar a importância do álbum. O cancioneiro de Chico e Edu em parceria é digna de grandes mestres, como Tom Jobim e Vinícius de Moraes.

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