textos

Textos de amigos e músicos do artista.

No Mais Perfeito Estilo Edu Lobo

Silvio Essinger

Perfeccionista confesso, Edu Lobo não conseguiria deixar o seu Songbook de 1994 ser reeditado sem alterações. Mas não foram uma só, duas, ou meia dúzia. O novo livro de Edu chega às lojas pela editora Lumiar (do produtor Almir Chediak) com profundas mudanças, visíveis desde a capa, muito mais estilosa e adequada a uma produção do gênero. “O projeto gráfico do primeiro foi feito meio às pressas para coincidir com os discos do Songbook [com vários nomes da MPB interpretando suas músicas]”, contou o compositor, por telefone, de Barcelona, onde estava para comprar um violão, para depois correr a Europa atrás de seus direitos autorais nas sociedades arrecadadoras. O músico que rabisca as partituras na capa, com o piano ao fundo, é o retrato de Edu nos últimos meses. Para esta nova edição, ele reviu todo o trabalho, reescreveu metade dele e ainda acrescentou músicas novas.

Como na primeira edição, o compositor fez questão de escrever à mão todas as partituras. O que, no caso de uma música “simples” – para os seus (altos) padrões, é claro – leva de três a quatro horas. As mais complicadas, como Beatriz, levaram seis horas cada. “Demora para ficar bonitinho”, diz. Todo esforço não é só purismo estético, garante: “Para ficar perfeito tem que ser feito à mão. Dá uma certa credibilidade à partitura. O cara pensa: “Se ele escreveu o acorde aí é porque deve ser esse mesmo””. Edu se sente muito mais aliviado em relação à sua obra desde que fez o primeiro Songbook. “Antigamente era horrível, escreviam sua música de qualquer maneira para facilitar a venda. Era como um quadro em que faltassem algumas cores”.

No zelo pela fidelidade aos acordes que escreveu, revela-se um procedimento artístico de Edu Lobo: o privilégio da harmonia em detrimento da melodia. “Para mim, ela é a alma da canção, podendo até renová-la”, diz. Ele tem uma explicação para essa preferência: “A melodia nasce com você, a harmonia você aprende.” O que acontece com Edu é que ele está sempre a rearmonizar suas composições antigas. “A música nunca está pronta, tem sempre espaço para alguma coisa.”, acredita. Em 95, ele reuniu várias delas, como Canto triste e Pra dizer adeus no disco Meia-noite. Recentemente, rearmonizou Canção tio amanhecer, parceria com Vinicius, feita quando tinha 19 anos. Segundo o compositor, “talvez a metade das músicas do Songbook estejam diferentes das originais”.

Nesse trabalho de buscar a melhor roupa para a melodia, muitas vezes Edu contou com a colaborações dos próprios músicos com quem trabalhou, como Tom Jobim e Cristóvão Bastos. “Quando gosto, da idéia, decoro. Para quem está de fora é mais fácil descobrir alguma coisa nova”, conta. Uma sugestão que Edu fez a Almir Chediak foi a de lançar um livro só com as melhores harmonizações da MPB: “A de Dori [Caymmi] para Aquarela do Brasil é uma obra-pnma, bem como a de Toninho Horta para Amor em paz. Adoraria comprar um livro assim.” Para o compositor, “harmonia é coisa que não pára, que não tem regras”. Ele cita o exemplo de Claude Débussy, um de seus autores favoritos, que tirou nota zero no curso de harmonia. “O que ele fazia era tão novo que contrariava as regras”. Na música, o que vale para Edu é a lição de Duke Ellington. “If its sounds good, It’s good” (“Se soa bem, é bom”).

No momento, não é só a reedição do Songbook (que traz novas fotos e um novo texto biográfico, do crítico Mauro Dias) que mobiliza o músico. Atendendo a uma de suas maiores paixões, que é escrever trilhas para cinema, ele está compondo a música para o filme Xangô de Baker Street, adaptação de Miguel Faria Jr. para o romance de Jô Soares. Diferentemente do que fez para Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende, desta vez ele vive a experiência de escrever a música antes da filmagem. “Quando pintar uma verba”, Edu pretende reescrever e regravar a música de Canudos para um disco. O que vai ser um desafio: imagine transpor a música da cena de batalha, que dura nove minutos, para que ela faça sentido em disco, sem a imagem. Mas isso é futuro. Numa de suas épocas “mais férteis”, ele continua fazendo suas canções. E avisa: há um punhado delas com Chico Buarque à espera de letra.

Cadastre-se

Receba conteúdos exclusivos e novidades por e-mail.