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Textos de amigos e músicos do artista.

Resgate Artesanal

Luciana Nunes Leal

Refinado melodista e artesão de harmonias, autor de clássicos da segunda onda da bossa nova e craque dos antigos festivais de MPB, o compositor carioca Edu Lobo saiu finalmente dos bastidores das trilhas sonoras para teatro, balé, cinema e tevê, com o lançamento do Songbook Edu Lobo (Editora Lumiar). O livro reúne as partituras de 60 de suas 150 músicas – transcritas com capricho artesanal pelo autor -, além de uma pequena biografia do compositor e arranjador, fotos históricas e textos de colegas e amigos.

Discípulo de Villa-Lobos e Tom Jobim, parceiro constante de Chico Buarque, Edu Lobo concordou em fazer o seu songbook, produzido pelo violonista Almir Chediak, com um sonoro não à tecnologia dos computadores. Edu fez à mão todas as notas e acordes de suas canções. Munido de caneta-tinteiro e nanquim, ele passou um ano e meio reescrevendo e desenhando, nota a nota, as partituras de suas composições.

Aos 51 anos e 32 de carreira musical, Edu Lobo diz que finalmente aprendeu a ter paciência. Não mais se aborrece quando uma canção começa a ser tocada nas radios muito tempo depois de ter sido composta por ele.

Foi assim, por exemplp, com a música Sobre todas as coisas, escrita em 1981 para o disco O grande circo místico e sucesso há dois anos na voz de Zizi Possi. Ela acabou incluída no CD Paratodos de Chico Buarque.

“Adoraria fazer uma música hoje e ser sucesso em um mês. Só que, em meu caso, isso leva dez anos”.

É verdade que as merecidas homenagens demoraram até o autor de Ponteio, Upa, neguinho, Vento Bravo e outras preciosidades ser aclamado como um dos grandes compositors da MPB. Em compensação, 1994 foi um verdadeiro ano do Edu Lobo. Em março, Edu recebeu o Prênio Shell de música pelo conjunto de sua obra, comemorado no mês passado com um show retrospectivo no Canecão carioca.

Mesmo para quem não sabe diferenciar um si bemol de um ré menor, o livro de Edu Lobo é uma jóia rara. Logo no início, o escritor e amigo Eric Nepomuceno lembra o dia que conheceu Edu, em 1967. O músico chegou à mesa de um bar, em São Paulo, onde estavam Chico Buarque, Gal Costa (ainda Maria da Graça), os integrantes do MPB-4 e outros jovens cantores.

Elegante e discreto como sempre, Edu mostrou duas novas canções, No cordão da saideira, de sua autoria, e Catarina e Mariana, com Ruy Guerra.

Foi o suficiente para deixar os colegas discutindo quem gravaria as músicas.

O compositor era o orgulho da turma. Aos 19 anos, já havia conseguido a proeza de entabular parceria com Vinicius de Moraes, em Só me fez bem.

Estudioso e tímido, era também o mais sério. Mas nem um pouco mal-humorado como lembra o bruxo Hermeto Paschoal que o acompanha em discos e shows há mais de 20 anos. “O Edu nunca foi de tomar iniciativa nas brincadeiras, mas se diverte quando a gente faz uma gozação”, diz Hermeto. “E como gosta de dormir! Quando morávamos em Los Angeles, nos anos 70, a gente combinava de se encontar às duas da tarde, eu chegava na casa dele e o encontrava dormindo.” Mais maduro, Edu Lobo tem apenas uma determinação: “quero fazer uma música que não envelheça nunca.”

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