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Textos de amigos e músicos do artista.

Botões

Luiz Fernando Veríssimo

Bom era futebol de botão. Você podia ter quem quisesse no seu time, sem limitações não só de verbas como de tempo e lógica.

Di Stefano fazia dupla com Zizinho, Stanley Matthews cruzava bolas para Leonidas, e nada impedia você de ir buscar talento fora do futebol: Albert Eínstein de centro-médio e cérebro da equipe, por que não? Só não tive Pelé no meu time, entre o Tesourinha e o Heleno de Freitas, porque quando o Pelé começou a aparecer eu já não jogava botão. Como seria o meu time de botão, hoje? Castilho, Djalma Santos, Muhamad Ali, Desailly e Nilton Santos; Diderot, Dunga e Redondo; Charlie Parker, Pelé…

Nunca mais se teve a mesma possibilidade de comandar a realidade como num time de botão. A imaginação era livre, claro. Em pensamento comiam-se mulheres e viviam-se glórias impossíveis. Mas no futebol de botão o mundo estava ali, sob os seus dedos, para ser organizado como você o queria. Só um romancista teria o mesmo domínio sobre seus personagens como você escalando seu time de botão. No fim éramos isso, ficcionistas inventando tramas e manipulando vidas em cima da mesa, onde o Ademir recebia passes do Puskas e você era o senhor de pelo menos onze destinos. Isso quando não jogava sozinho, pois aí era o Deus da Criação.

Me lembrei do meu time de botão quando li que o Chico Buarque e o Edu Lobo tinham se rejuntado para fazer um musical com texto e direção da Adriana e do João Falcão. Está aí, pensei, se eu fosse fazer um musical brasileiro de mesa seria justamente esses os nomes que poria nos meus botões. Não dá para imaginar combinação mais imbatível, um time mais de sonho. Cruyff, Platini, Maradona e Ronaldinho com o joelho bom – só que neste caso são todos de verdade!

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